Depois da estreia com Palisade, em 2006, os La la la ressonance regressam aos discos com Outdoor, edição numerada e limitada a 500 exemplares. Persistem na ironia de um discurso experimental devedor do jazz em rota de colisão com a construção cirúrgica de rendilhados pop, instrumental e abstracto, preservando as arestas perigosas, destroços deste embate. Gravado entre 2008 e 2009, Outdoor conta com a participação dos Quad Quartet, interpretanto trechos escritos pela banda, introduzindo a gravidade de um quarteto de sopros, em encontro cego com a matéria prima resultante do longo processo de composição.
Com distribuição da Compact Records, Outdoor é embalado em digipack certificado, integralmente construído em material reciclado e biodegradável
“É impossível perder isto. Sobre Outdoor.
valter hugo mãe
Era difícil imaginar como poderiam amadurecer os La La La Ressonance depois da edição de Palisade. Era difícil porque perante esse primeiro longa duração ficáramos já conscientes da amplitude de sentidos que a sua música poderia adquirir, ao mesmo tempo explorando um lugar sempre novo e cumprindo uma maturidade rara que poucos projectos musicais – mormente em Portugal – conseguem atingir. E é pela maturidade que se pode entender como, agora com este novo álbum, o projecto se consolida num registo profundamente equilibrado onde cada tema contribui de igual modo para o brilho do trabalho global. Este é o desafio que os La La La Ressonance vencem com Outdoor – e bem podem alardeá-lo em grande – o de não pecarem em momento algum, mantendo rigorosamente o nível de qualidade e apelo em cada instante de todo o disco. Perdendo uma certa oscilação temperamental, com enfoques emocionais algo distintos, o projecto apresenta agora um corpo uno, um organismo super-identitário que se comporta como um ser completo e perfeito.
São doze trechos de uma composição diria já virtuosa, embora sempre preferindo a subtileza e a graciosidade, trechos esses elevados discretamente de uma condição pop ou rock, ou pós-rock, e encontrando a criatividade do jazz com apontamentos de uma erudição que pode levá-los a ombrear com nomes sérios da música contemporânea. Parece que a ECM encontra a Tzadik, resultando numa identidade que eu apontaria por uma agradabilidade ímpar, ainda devedora, por exemplo, do lado mais cool das prestações dos Sonic Youth nos seus discos de resistência editados com o selo SYR.
Outdoor é um disco que nasce clássico, feito para os melómanos mais exigentes, capaz de sobreviver ao embate cada vez mais violento com a abundância da música dos nossos dias. Outdoor está para lá do tempo, é o que quero dizer, porque não corresponde senão ao seu momento próprio, extrapolando ondas e tendências e encontrando indubitavelmente um colectivo de músicos que procuraram obstinadamente um resultado difícil, o mais difícil, aquele que já é feito da sua própria verdade. Eu tive sempre a maior das expectativas em relação a este colectivo de músicos, mas sempre as coloquei no insondável dos seus caminhos, porque me habituei a não adivinhar o que fariam a seguir, e agora, pela primeira vez, talvez tenha percebido que o caminho foi exactamente para aqui chegar. Esta é a definição mais imediata do meu sentimento de satisfação e respeito por este disco, o de quem percebe que estes músicos deambularam para aqui chegarem, a esta completude que, uma vez criada, faz falta e tem de ocupar o seu lugar nas discografias mais exigentes de quem está vivo. Ouçam “Victoria Station”, na primeira e na segunda versão (mesmo que dominem mal as saudades de Londres, como eu), e percebam como um mundo infinito de coisas são ali juntas, num dos temas mais coloridos e preciosos que a música recente inventou. Confiram a erudição, a contenção, a graciosidade, a profunda alegria que o som pode conter. Impossível perder isto. É impossível perder isto.”
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