03 abril 2009

Relato de um concerto dos ARTE & OFÍCIO, em 1978

Em Dezembro de 1976 vi um concerto dos Psico, no Liceu da Guarda, integrado num Baile de Finalistas.
Os Arte & Ofício formaram-se, no Porto, a partir de alguns membros dos Psico, em 1975
Lembro-me de ver um cartaz que anunciava um Baile de Finalistas, em 1977 ou 1978 (julgo que na Covilhã) com os Arte & Ofício, onde estava escrito qualquer coisa como “Arte & Ofício (com ex-membros dos Psico)”.
Na época os Bailes de Finalistas eram o maior acontecimento musical da região.
Só que, para além dos Bailes de Finalistas, que, normalmente, aconteciam no primeiro período lectivo ou em Janeiro; havia ainda outros eventos, organizados pelos Pré-Finalistas, já que a sede de música era muita.
Vi o cartaz que anunciava o Baile de Pré-Finalistas do Liceu Nacional Afonso de Albuquerque, na Guarda, no dia 8 de Abril de 1978 e, como já tinha conhecimento da banda pelo que lia na revista “Rock em Portugal”, onde eram apresentados como do melhor de Portugal, e por algum tema que ia ouvindo na rádio, não podia faltar.
Na época andava a estudar no Colégio do Sabugal. À boleia, com uns amigos, lá fui ver o concerto, na Guarda.
Neste concerto participaram os Spartaks e os Arte & Ofício. Os Spartaks eram da Guarda e eram a melhor banda da época, a nível regional. Por ela passaram músicos como Márito (mais tarde membro da Go Graal Blues Band) ou o falecido Pi (que chegou a tocar com Rui Veloso). Embora fossem uma banda que só tocava “covers”, eram um verdadeiro acontecimento musical.
Na época não havia primeira parte pelo grupo local e o resto pelo grupo principal. Ambas as bandas tocavam e faziam um intervalo e voltavam a entrar em palco.
Foi o que aconteceu neste concerto: primeiro tocaram os Spartaks e depois os Arte & Ofício, a que se seguiu, novamente, a banda da Guarda, terminando a noite a banda do Porto.
Confesso que este concerto dos Arte & Ofício me deixou completamente “banzado”. Nunca me tinha passado pela cabeça que houvesse grupos portugueses com tal nível de profissionalismo.
Nesta época os Arte & Ofício já tinham lançado dois singles e estavam prestes a lançar um máxi-single (o primeiro disco deste formato, em Portugal).
Foi, este, o concerto que fez com que me tornasse um melómano.
O salão do Liceu não estava cheio (afinal não era bem um Baile de Finalistas), mas estava bem composto.
Os Arte & Ofício eram formados por António Garcez (voz), Fernando Nascimento (guitarra), Serginho (guitarra), Sérgio Castro (baixo) e Álvaro Azevedo (bateria). Todos eles eram veteranos na cena rock portuguesa. Eram mais velhos do que a maioria dos seus contemporâneos. Na época já andariam perto dos 25 /30 anos e a maioria do público seria constituída por adolescente abaixo dos 20 anos.
Lembro-me que Serginho fumava muito, enquanto tocava, e que António Garcez andava sempre com o tripé do microfone a fingir que era uma guitarra, enquanto Sérgio Castro (de cabelo comprido) marcava o compasso no início de cada tema. Fernando Nascimento estava quietinho, num canto do palco a solar (e de que maneira!!).
Garcez não parava um bocadinho e ia partindo uma parte da bateria de Márito (aquela transparente com listas vermelhas que os Spartaks tinham), tal a forma como rodava o tripé do microfone.
Tocaram temas, num estilo bastante “hard rock”, como “Come Hear The Band”, “The Little Story Of Little Jimmy”, “Festival” ou “Marijuana”, todos originais da banda portuense. Este último tema ficou-me, para sempre na memória, devido ao refrão que rezava “ Marijuana Will Be Your Five O’Clock Tea” e que eu nunca tinha ouvido (aliás só sairia em disco em 1980).
Eu e os meus amigos passámos a noite na Guarda e só regressámos a casa, novamente à boleia, no dia seguinte.
Foi um concerto inesquecível…

1 comentário:

Ars. disse...

Que memórias maravilhosas.