Porquê?...
Eles vão ficar à solta...
Na semana em que saiu para as bancas o novo trabalho dos UHF, banda que assinala 32 anos,
nós fomos palmilhar as faixas do disco, para perceber o que lá está dentro e o que faz mover esta
banda que marca, ainda hoje o rock português. O que nos pode trazer uma banda com um trajecto já firmado no nosso panorama musical, como resiste aos novos desafios que se colocam nestes tempos? O início leva-nos a um local longínquo misturado com uma declamação apelativa, que nos faz levitar até aos tempos do principio da humanidade onde o som dos tambores antevendo o que aí vem: «Nativos»; «Viver para te ver», o segundo single, faz uma apologia ao Amor, a vivências comuns: uma canção com uma sonoridade muito bonita, uma verdadeira serenata para cantar à pessoa amada; o primeiro single «O Vento Mudou» já foi aqui analisado numa anterior rubrica; «Porquê Só Ela» alia a um poema introspectivo, de encontros e desencontros, uma bela melodia; em «A Canção Pode Ser» começa a afirmar-se o crescimento dos músicos, do colectivo na sua fase adulta, e pode ser mesmo a confirmação do destino de uma canção: uma companhia, a inspiração pela manhã; «Quero entrar em tua casa», tema “mais rock anos 80” directo e muito bom ao vivo, com uma força que deixou muitos surpreendidos quando foi tocada nas Festas de Amora o ano passado, e não só; «Porquê? » tema título, é a primeira canção de cariz político do disco, muito incisiva e com o sentido crítico do autor do poema: António Manuel Ribeiro. Segue-se a homenagem aos resistentes, a José Afonso com «Vejam Bem», são ecos da Revolução, são obras de arte da banda, excelente versão rock deste tema mítico de Abril, onde o guitarrista António Corte Real solta definitivamente e muito bem os seus gritos (acordes) de rebelião, na sua excelente interpretação. «A Última Prova» envolve-nos entre a espuma da interpretação acústica, eléctrica e o esforço da voz, um tema muito forte com uma grande componente de crítica social real. Com «Cai o Carmo e a Trindade» os UHF assumem definitivamente o seu discurso político, os dedos na ferida, críticos da situação em que o nosso Portugal foi colocado por políticas e políticos incompetentes, a (in)Justiça e as influências do poder: eles vão ficar á solta… Para os fãs e admiradores a banda oferece um tema que, agora em eléctrico, revisita todo o ambiente que rodeia os concertos ao vivo da banda: a troca, a intimidade, a intensidade e toda a amizade entre o grupo e os seus amigos (os fãs), que consideram como a sua família, apreciem e revejam-se com «Acende Um Isqueiro». Para finalizar «Portugal (somos nós)» uma exortação às nossas raízes, um grito de revolta, por um Portugal melhor. Um excelente trabalho, aquele que António Manuel Ribeiro, António Corte Real, Fernando Rodrigues e Ivan Cristiano nos oferecem, um disco sóbrio mas arrojado fiel ao seu estilo musical, mas actual, feito de amores/desamores percurso encontros e desencontros, crítico e perspicaz, com uma voz amadurecida e carismática, guitarra com marca bem definida, com interpretações de grande nível, bateria assumidamente marcante, intensa e baixo e teclas de muito boa presença, uma banda adulta e que respeita o seu público, sem deixar de vista a expansão da sua obra dirigindo-a a novos ouvintes. Um disco obrigatório para os amantes do bom rock português.
Porquê? Porque sim! Francisco Rosário- Publicado no jornal "Comércio de Sesimbra"
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2 comentários:
Olá,
Achei o link do teu blog em outro site sobre rock português.
Estou atrás de letras da banda Tantra. Não acho em lugar algum. Pode me ajudar?
Abraço
Acrítica é boa. O disco ouve-se poucas ou nenhumas vezes na rádio/tv.
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