08 abril 2010

Relato de um concerto dos ANANGA-RANGA, em 1979

Em 1976, quando eram um grupo que apenas tocava música de cópia, os Ananga – Ranga foram a atracção no Baile de Finalistas do Externato Secundário do Sabugal. A sua segunda e última actuação no Sabugal aconteceu no dia 11 de Novembro de 1979, também integrada num Baile de Finalistas. Nesses anos os Bailes de Finalistas eram, na realidade, concertos. È desse concerto que trata esta crónica. Nesta época os Ananga – Ranga já eram uma banda com nome consolidado na praça portuguesa. Formados por Luís Firmino (guitarra), Vasco Alves (baixo), Necas (bateria), Manuel Barreto (teclas) e Manuel Garcia (saxofone), os Ananga – Ranga já tinham gravado dois singles e um LP, quando se apresentaram no Sabugal. Necas tinha estado ligado ao Jazz puro e duro, tendo tocado com Rão Kyao. Era um dos melhores bateristas portugueses. A sua música era o Jazz Rock, estilo do qual eram os representantes máximos, em Portugal. Os dois singles que lançaram antes do LP não tinham a ver com Jazz Rock, mas foram uma imposição da editora discográfica, para que a banda continuasse a gravar. O Baile de Finalistas decorreu no Cine-Teatro, com lotação esgotada. Também actuaram, no Baile de Finalistas, os Spartaks, oriundos da cidade da Guarda, à época o melhor grupo de todo o distrito. À entrada do local do concerto, alguém, pertencente ao “staff” dos Ananga-Ranga, andava a vender os discos da banda, tendo eu aproveitado para comprar o LP. Os Ananga – Ranga apresentaram, no Sabugal, o seu álbum intitulado “Regresso às Origens”, um tratado de Jazz Rock, ainda hoje considerado como um disco fundamental de toda a produção nacional. Todos os temas deste disco são instrumentais. Este facto não inibia os estudantes de contratar a banda para o seu Baile de Finalistas. Acho que, hoje, tal facto era considerado impossível. Por isso eu já não sei se se evoluiu ou se se retrocedeu, nesta matéria cultural. Esta era a época em que se ia ver e ouvir r bons músicos a tocar ao vivo. Não se ia apenas pelo divertimento, como parece acontecer hoje em dia. Temas como “Rockalhão”, “Cúria”, “Joana”, “América”, “Regresso às Origens” ou o longo tema intitulado “Bolero” foram tocados, impecavelmente, pelos membros da banda. Lembro-me bem do baterista Necas, um homem que deveria pesar mais de 100 Kg, tirar todo o partido da bateria e de Manuel Barreto tocar com auscultadores, facto que eu nunca tinha presenciado em nenhum espectáculo ao vivo. Numa determinada fase da sua actuação, os Ananga – Ranga resolveram interpretar alguns temas clássicos do Rock internacional. Depois, Luís Firmino anunciou que quem adivinhasse o título e o autor das músicas se dirigisse ao técnico de som e teria direito à oferta de um disco da banda. Foi assim que subi ao palco para receber a oferta do single “Fascínio”, dos Ananga – Ranga, por ter adivinhado o nome da música “Can’t Get Enough” dos Bad Company. Ainda guardo esse disco religiosamente. Outra música que os Ananga – Ranga tocaram (um tema dos Styx) foi adivinhada por um dos técnicos dos Spartaks, o qual também subiu ao palco para o receber (desta vez foi o LP). Mais tarde voltei a ver tocar o baterista Necas, num concerto de Roberto Leal, na minha terra natal, quando os Ananga – Ranga já não existiam há muito e era necessário sobreviver como músico profissional. Os Ananga – Ranga lançaram, no ano seguinte, mais um LP, desta feita já com voz, cantado em inglês e intitulado “Privado”. Pouco depois terminaram. Luís Firmino foi para os Estados Unidos, onde ainda permanece. Manuel Barreto trabalha numa secção do “Diário de Notícias”. Penso que Necas ainda toca, mas não tenho a certeza absoluta. O bilhete de entrada para este concerto custou a módica quantia de 180 escudos.
ESTE CONCERTO NÃO CONSTA DO "MEMÓRIAS DO ROCK PORTUGUÊS- 2.º VOLUME", ONDE SÃO REFERIDOS OUTROS 8 CONCERTOS, QUASE TODOS DESTA ÉPOCA DO ROCK PORTUGUÊS

6 comentários:

manuel necas felix disse...

alo sr.aristides! já há bastante tempo que tenho lido este artigo e hoje acabei por fazer um comentário. gostei muito do que escreveu e, digo-lhe que me toca de perto pois sou o tal baterista necas que neste artigo já ñ sabe se deixou de tocar. continuo a tocar graças a Deus!!! neste momento estou integrado na banda da cantora ágata. espero ter o prazer de voltar a ler os seus artigos e comunicar consigo!! e desde já lhe digo que, durante este ano ainda vai ter uma surpresa!!! depois se tiver o seu e-mail será o 1º. a saber!! abraço e bem haja!!! necas

ARISTIDES DUARTE disse...

Caro Necas. Obrigado pelo seu comentário.
O meu e-mail é akapunkrural@gmail.com
Quem, há uns anos, não sabia do seu paradeiro era o Manuel Barreto.

Bruno Lamarosa disse...

Olá, viva!
Chamo-me Bruno, tenho 24 anos, e desde que tive um vislumbre dos Ananga-Ranga algures na Internet, não descansei enquanto não comprei o disco "Regresso às Origens"... Ei-lo acabadinho de chegar e já a rodar! Que deleite e uma impossível nostalgia...Sou da opinião de que existem dois tipos de música, a boa e a má... Esta é óptima, é portuguesa feita por portugueses e a sua qualidade é inquestionável! Que inveja não ter assistido também eu a um concerto... Cumprimentos, Bruno Lamarosa.

Dragão da Beira disse...

O "Regresso às Origens" é um álbum simplesmente fenomenal. Muito bom mesmo. Adorei. Um abraço a todos os cultores da boa música portuguesa.
Dragão da Beira

Unknown disse...

Boas Tardes,

Conheci a música dos Ananga-Ranga devido a ter sido colega do pai do Vasco Alves. Já tentei encontra-lo, mas em vão por enquanto, porque gostaria de contar-lhe algumas histórias sobre o grupo do ponto de vista do pai, que passados estes anos, o tempo se encarregou de pulir e de certo se tornam de certo modo cómicas e nostálgicas. Mas quanto à música deles; 5 estrelas!!!

Unknown disse...

Em 1979 então com 18 anos eu e um grupo de amigos finalistas tivemos a ousadia de levarmos os Ananga Ranga ao Fundão concerto no antigo casino frente à Câmara. Para primeira parte tivemos uma banda do Fundao penso que se chamava Psycadelic Set e de cache levou 25 contos, quanto ao cachê dos Ananga Ranga penso que foram 60 contos, ao contrário das expetativas tivemos prejuízo e o dinheiro da bilheteira apenas deu para pagar à banda de Lisboa ficando a banda do Fundao a arder. Tornei a ver os Ananga Ranga na minha aldeia o Alcaide, de frango grandes músicos e rebordo bem o Necas e o Firmino com quem conversei bastante. No ano seguinte 1980 o mesmo grupo de finalistas levamos ao Fundão os UHF, tinham editado o single Jorge Morreu, a mesma banda para fazer a primeira parte e desta vez tivemos lucro. Os UHF levaram de cachê ou 100 ou 125 contos, já não me lembro bem. Bons tempos.