14 novembro 2005



A capa do CD "Trans Mutacao" dos ANGRA DO BUDISNO; liderados pelo falecido Farinha Master (ex -OCASO EPICO)

2 comentários:

Anónimo disse...

Que grande disco !!! Fantastico !!! Inacreditável frescura musical!! nunca tinha ouvido nada assim.
Obrigado Aristides pelo que tens feito pela Musica Portuguesa

Anónimo disse...

critica de Nuno Camarinhas in pwp.netcabo.pt/0153290501/ criticas/angra_do_budismo.html

" Existe um cometa na música moderna portuguesa chamado Farinha. De tempos a tempos, a sua trajectória cruza-se com a nossa rota de comuns mortais auditivos. Nos anos oitenta essa passagem chamava-se Ocaso Épico e foi um dos clarões mais luminosos do nosso firmamento. Dessa passagem apenas ficaram um álbum injustamente esquecido (Muito Obrigado, do qual ainda está por fazer uma re-edição em CD) e várias participações sublimes em colectâneas dispersas.

Nos anos noventa voltou a cruzar-se connosco, sempre em projectos que não conheceram grande divulgação.

Há poucos meses, uma notícia de jornal anunciava para breve uma nova passagem, desta feita sob o irónico nome de Angra do Budismo (http://www.AngraDB.no.sapo.pt). O mês de Maio trouxe-nos a boa nova da chegada às lojas de uma (auto-)edição do seu álbum de estreia, Transmutação.

Para quem assistiu à existência dos Ocaso Épico, a sonoridade deste trabalho evoca agradáveis memórias. Farinha faz-se rodear de três músicos (Luís Bernardo, guitarrista e companheiro doutras andanças, Sabini, baixista, e Sara Belo, nas vozes) que interpretam na perfeição o cânone iconoclasta daquele que é, na nossa modesta opinião, uma das personalidades mais interessantes da nossa música moderna.

O jogo continua a ser feito do cruzamento de registos: os sons tecnológicos coexistem com instrumentos acústicos e as estruturas rítmicas e melódicas de toada tradicional sobrepõem-se a formas de composição marcadamente contemporâneas. A escrita de Farinha assimila referências budistas ao mesmo tempo que pisca o olho à forma popular de rimar e dizer. Os trabalhos vocais, partilhados por Farinha e Sara (ajudados ocasionalmente por Luís Bernardo), exploram também o jogo de contrastes, com a voz da segunda a partir para vôos mais arrojados, enquanto Farinha nos presenteia com as suas interpretações inimitáveis.

O disco abre com um divertido «Café Brasilia», onde se alinha pela reiterpretação dos sons brasileiros à luz das novas músicas de dança. O sotaque é delicioso e a toada coloca-nos logo de bem com o projecto. É como se nos servissem uma limonada fresca e nos convidassem a ouvir a Angra do Budismo com um rasgado sorriso.

Seguem-se o curioso «Oh Yeah (All right)», num registo de rock clássico e o estranho «Irreal», que parece um piscar de olho a alguma da nossa música popular urbana mais recente. «Transmutação» é a primeira amostra da evolução do antigo espírito Ocaso Épico, ao mesmo tempo que convoca memórias de António Variações. «Up and Down, Up» é a primeira grande canção pop do disco e «Flor do Tao» eleva a fasquia, com um interessante duelo entre Farinha e Sara Belo. O ouvinte, que já só pode estar em postura de adoração absoluta ao som da banda, vê o nível da sua fruição continuar altíssimo com as canções seguintes: «Dança do Kundalini», «Trash City Baby» e o excelente «Mumbafu», uma verdadeira explosão de referências onde, no meio de sonoridades tropicais e orientalizantes, até os Joy Division podem entrar. «Cuidar de ti» e «Vida de Funcionário» desiludem um pouco, apesar do humor da segunda que reproduz em detalhe o quotideano numa qualquer repartição da Função Pública. O disco termina em grande com mais dois temas essenciais, igualmente descendentes da linhagem Ocaso Épico: «Chamamento de Leste», em que os ritmos dançantes têm um contraponto assumidamente tradicional e o genial «Trambolhão trambolhão», um corridinho-techno no mais puro estilo Farinha Vintage, com guitarras à portuguesa e uma reciclagem dos Kussondulola que se vão tornando obssessivas.

Em suma, um disco que tem o poder de se ir apoderando dos nossos neurónios de uma forma discreta mas arrebatadora. Mais um disco que, depois de pedir asilo político ao nosso leitor de CD’s, se instala de armas e bagagens e ameaça não sair de lá tão cedo."