20 outubro 2006

Uma história mal contada

No suplemento "Y" do jornal "Público" de hoje há uma reportagem sobre o documentário dos Heróis do Mar intitulado "Brava Dança", onde vários músicos tecem comentários sobre a banda de Pedro Ayres.
Alguns deles dizem que antes do "boom" do Rock potuguês a rádio só passava música de intervenção.
Muito me admiro com essas afirmações!!!
Se dissessem que , desde o 25 de Abril de 1974, até 25 de Novembro de 75, isso acontecia, tudo bem...
Agora até 1980, não cabe na cabeça de ninguém...
Eu afirmo que isso é falso e escrevi-o no meu livro ("Memórias do Rock Português"- página 20).
Antes, já Mário Correia no livro "Música Popular portuguesa- Um Ponto de Partida" tinha escrito o mesmo, chegando a dar exemplos concretos da censura exercida contra os cantores de intervenção, a seguir a Novembro de 75. E aparecem , agora, uns "líricos" a dizer o contrário... Mas eles ouviam rádio portuguesa em 76, 77, 78, 79?
Eu, sendo mais novo que eles, lembro-me bem da rádio passar o Marco Paulo e todos os outros intérpretes da música ligeira, porque assim é que estava bem.
E ouvi Perspectiva, Arte & Ofício, Tantra, etc, nas rádios portuguesas em 76/77/78.
Não digo que a rádio não passava boa música, mas passava , também, muita porcaria, sobretudo estrangeira.
O que não se ouvia, ou se ouvia muito pouco,eram os cantores de intervenção.
Nada de revolucionários. Aliás, um painel de críticos, considerou mesmo o LP "Com as Minhas Tamanquinhas" do José Afonso, o pior disco português de 1976. Ou já ninguém se lembra?
Mas os portugueses são mesmo assim. A falta de memória é uma coisa terrível...
Outro mito, é o que é... Tal como o mito de que Rui Veloso é o pai do rock português. E nunca mais se sai disto.
Quem quiser comentar e atirar achas para a fogueira esteja à vontade.

24 comentários:

Anónimo disse...

Na verdade a História contemporânea de qualquer assunto não é objectiva está sujeita aos interesses instalados.
Só o Tempo, verdadeiro juiz, poderá separar o trigo do joio.
E o Aristides Duarte já está a dar um sério contributo nesse sentido.
A prova é o seu Livro, este Blogue, e os artigos que escreve no NOVA GUARDA.
Não desista!

bissaide disse...

Eu, sendo ainda mais novo, não me posso recordar do que passava na rádio nos finais da década 1970 (nasci em 1977). Mas qualquer trabalho de investigação mínimo leva às conclusões que o Aristides aqui refere, como a tão badalada (na época) escolha do disco de José Afonso como o pior de 1976. O rock português pré-1980 existiu também (a sério??), e produziu, com muito menos meios e condições, obras igualmente ou ainda mais válidas que as tantas vezes pisadas da década de 1980. Mas o que importa, afinal de contas, é apreciar e divulgar a música portuguesa, seja ela de que época for, evitando as declarações falaciosas e espampanantes.

Anónimo disse...

CIDadão
Se há um pai do rock português, José CID tem idade para ser pai dele. Mas há quem o aponte como a Mãe do rock português. Em que ficamos?

ARISTIDES DUARTE disse...

É pai
Só pode ser pai...
Se é do sexo masculino...

ARISTIDES DUARTE disse...

Esqueci-me de uma coisa: O CORPO DIPLOMÁTICO ( de onde sairam três Heróis do Mar) editaram o single "FESTA", cujo lado 2 é o tema "Engrenagem" de José Mário Branco. Mais uma coisa que não bate certo com a reportagem do "Público".

Jorge Guimarães Silva disse...

Se há um pai do Rock português, provávelmente esse é Victor Gomes. Os anos 60 ainda estvam no início e o Voctor Gomes eo seu grupo mexia na música nacional com "covers" de Chuck Berry, Elvis, etc.

Anónimo disse...

Mas o que é certo é que antes do Vitor Gomes já o José Cid tinha os Babies, que nunca gravaram, mas deram brado

Anónimo disse...

A história do "pai do rock português" não passou de uma manobra de marketing da editora, a qual, na altura, contou com a colaboração das rádios e da RTP. Rui Veloso sempre que ia a um programa era catalogado dessa forma. E nos primeiros anos nunca recusou tal "alcunha". Dava-lhe jeito. Hoje, já estabelecido, não se cansa de recusar tal "nomenclatura". Acontece que quem hoje escreve nos jornais é, ou muito novo, ou da geração dos que inventaram essa história. E continuam com ela por estupidez/desconhecimento ou por entenderem que utilizar esse lugar comum lhes dá um ar de sabedoria. Também tenho apanhado patetices noutros artigos (Revista Sábado sobre os Heróis do Mar, onde um "iluminado" conseguiu inventar que o tema Paixão estava incluido no LP Mãe). Rock em Portugal sempre o houve, desde finais da década de 50. Se as bandas eram editadas ou não, isso é outra questão. Quanto à rádio só passar rock português depois de Rui Veloso, bem, em grande quantidade é verdade que sim, mas só nos inícios dos anos 80 se começaram a editar muitos discos por ano no panorama do rock português. Até aí eram 3 ou 4 por ano.

Anónimo disse...

Mas eu nunca escrevi que a rádio só passava Rock português, depois do Rui Veloso. Eu escrevi que a rádio não passava música de intervenção, depois do 25 de Novembro de 1975 e o que o artigo do jornal "Público" alega é o contrário disto. E eu continuo a afirmar o mesmo...
Mas, claro que o Rui Veloso ainda tem que nascer 10 vezes para ser o pai do Rock português. Esse título , se assenta a alguém, é ao José Cid. Só que, se calhar , não é politicamente correcto dizer isso...

jazzetome disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
jazzetome disse...

A sensação que eu tinha (e ainda era um muído) é que antes do boom de 1980-81 faltava um grande "Hit" em Portugues para as pessoas começarem a comprar.
Os Tantra passavam na Radio assim como os GGBB mas as pessoas (o cidadão que comprava o J. Cid) achavam as musicas demasiado "elaboradas" e por isso não vendiam. Só com o Chico Fininho é que toda a gente começou a comprar discos cantados em Português.

ARISTIDES DUARTE disse...

Não nego a importância do Rui Veloso no "desabrochar" da nova música portuguesa urbana (digamos Rock). Seria um erro negá-lo. Mas daí até ser o pai do Rock português vai uma grande diferença.
E , curiosamente, no artigo do "Público", nem se foca Rui Veloso. Dá impressão que tudo começou mesmo com os Heróis do Mar. Ora isto é reescrever a História. Portugal, está, aliás, cheio disso.

Anónimo disse...

só vendo o documentário é que se pode verificar se a história está bem contada. Mesmo assim os HM já vem dos Faisacs e CD

ARISTIDES DUARTE disse...

Pois... é verdade

Os Heróis do Mar já vêm de bandas dos anos 70. Mas , aqui , o que está em causa é o artigo do jornal "Público". Até pode ser que o documentário conte a história sem invenções.

Anónimo disse...

As declarações desses músicos também não importam muito. O Nuno Rebelo até se afastou do rock.

Unknown disse...

Para se dizer que alguém é o pai do rock português, tem de se pensar num som original, qualquer coisa que marque o panorama musical e que nunca tenha sido ouvido em portugal, e não obras óbviamente baseadas em música afro/americana,(os blues do rui veloso), ou com grandes influências do resto da europa,(o rock progressivo do josé cid).
Francamente acho que nenhum deles é o pai ou a mãe do rock português.
Como progenitores deste, vou eleger os Mão Morta, que são os únicos que, até hoje, preenchem todos os requisitos,(goste-se ou não).

um abraço

ARISTIDES DUARTE disse...

Tu ó Anarquista Duval, deves estar a sonhar. Pões o pai a nascer depois do filho.
Lê , informa-te e deixa-te de tretas...
Lá por gostarem dos Mão Morta, não tens que resscrever a História. E a História existe, quer queiras, quer não...

Dr Puto disse...

convinha talvez salvaguardar o facto de que o proprio Rui Veloso sempre recusou o epíteto que lhe foi atribuido por ignorãncia de uns e por interesses comerciais de outros.

boa noite e uma boa semana

Anónimo disse...

Uma coisa é certa, o tal 'boom' do rock português definitivamente aconteceu, já ninguém (em termos de imprensa e público) ligava a bandas portuguesas e de repente, surgem compilações da Polystar e outras que tais que vendem excelentemente com Mário Mata, Heróis Do Mar, Trabalhadores Do Comércio, Taxi e o pessoal 'acordou' para o som português...

Até os GNR que eram renegados 'cairam no goto' com "Hardcore"...

Se bem que era a época do single, gostava-se apenas de um tema, a nível geral.

50 anos de falta de cultura são difíceis de ultrapassar...

Mais tarde, a rádio passa Radar Kadafi, Pop Dell Arte, Mler If Dada e outras bandas que faziam algo pela inovação a nível nacional... e ainda bem!

Outras histórias são das classificações que os jornalistas atribuiem...

"Rui Veloso, pai do rock"???

Lmebro-me bem de ele nem querer que lhe chamassem de 'Chico Fininho'...

Talvez a renegar o que lhe fez despertar a atenção das 'massas' mas só ele pode responder a essa questão...

São opiniões e esta é a minha...

Continua a salutar discussão...

Eu sou mais pelos Aqui D'El Rock, Faíscas, Xutos & Pontapés, Crise Total, Mata-Ratos e outros que tais, mas há que saber o que realmente se passou, pelo menos entre nós, no nosso pequeno país...

Vítor Gomes só pode impressionar quem pode assistir aos concertos da altura, não de há 4 ou 5 anos, concerteza.

Abro a porta para discussão...

LSO disse...

Antes de "Rock around the clock" havia r'n'r? Sim, havia. Mas o início ficou eternamente ligado a Bill Haley e aos seus cometas porque aquele boom permitiu tudo o resto. Os Beatles, de outra forma, acabam também por provocarem uma explosão num momento em que a música rock se encontrava numa fase de estagnação mediática. Basta recordar a morte de Buddy Holly, o eclipse dos pioneiros Bill Haley, Jerry Lee Lewis, Little Richard, etc. e a mutação de Elvis que passa de Rei do Rock (antes da tropa) a aspirante a Sinatra 2 (depois da tropa).

Também em Portugal existiram 2 momentos mas mais distantes no tempo. O "El rei D. Sebastião" do Q1111 e o "Chico Fininho" do Rui Veloso. O primeiro teve um grande impacto, basta recordar o precedente que o programa "Em Órbita" abriu para emitir esse tema assim como o texto em tom solene que apresentou o mesmo. Esse texto explica na perfeição a questão da "nacionalidade" do rock e da identidade do mesmo em território nacional. Porém, apesar desse início promissor de Cid, com muitas bandas na década de 60, a realidade é que a maioria eram grupos de covers e não existiu evolução em quantidade e qualidade levando a uma quebra/congelamento de um movimento que nunca existiu verdadeiramente.
Quando "Chico Fininho" aparece em 80, tal como com o "Rock around the clock", já existia muita coisa a girar e a ser feita. Até o primeiro disco dos Jáfumega era anterior e os Taxi (sem acento) já tocavam em conjunto sob a designação de Pesquisa (onde estarão as maquetes das músicas do primeiro LP gravadas em inglês?). O mérito de "Chico Fininho" e de Rui Veloso foi o de despoletar a explosão de um novo e efémero movimento que durou 2 anos. Não nos esqueçamos que em meados de 82 quase tudo tinha rebentado para que anos mais tarde a indústria tenha ganho consistência. Um obrigado muito grande ao Rock Rendez-Vous pela grande importância que teve nesse período da nossa história musical. Todavia, esse "boom" de 1980 foi determinante para que exista hoje rock português.
Se tivesse de optar pela figura de pai do rock português escolhia o José Cid. Mas ao nível das novas bandas o movimento de 1980 teve maior importância. A culpa é do José Cid que andava, em 1960, com 20 anos de avanço em relação aos seus colegas músicos portugueses.

Anónimo disse...

Caro Luís Silva do Ó :

Tem razão.
Mas nem todas as bandas anteriores ao "boom" de 80 faziam covers. Mesmo no início, nos anos 60, já havia muitos originais.
Se formos ver isso em termos de música mesmo original é outra coisa.
Claro que, nesse aspecto o Quarteto 1111 foi pioneiro. E o José Cid era do Quarteto e o seu mentor.
Mas, sempre diremos que os UHF e Xutos também se basearam no Punk.E os Tantra e Perspectiva ou Pesquisa no Rock sinfónico dos Yes.
Claro que o José Cid estava avançado em relação a outros.

LSO disse...

Caro Aristides Duarte,

Antes de mais os meus parabéns pelo excelente trabalho no blogue e em livro.

Concordo consigo, mas acrescento duas notas. No meu comentário não fiz referência a influências de movimentos ou grupos estrangeiros, apenas procurei traçar paralelismos entre o movimento internacional do R'n'R e o que se passou no nosso pais. A verdade é que todos os músicos têm influências, quer sejam mais ou menos acentuadas. Por outro lado, apesar da maioria tocarem versões nos anos 60 já existiam grupos de originais. Quando digo que "a realidade é que a maioria eram grupos de covers" sublinho isso mesmo. A maioria e não a totalidade. A verdade é que a realidade cultural da época era muito diferente e incentivava os covers. Até os Sheiks além dos originais tinham covers e o Q1111 nos concertos também tocava imensos covers. Na altura os concertos eram bailes.

Bom Natal e um excelente 2006 com muita música portuguesa.

Anónimo disse...

Se me permitem, o problema está sempre na tentativa de se catalogarem as coisas.É que na música, como noutras áreas, existem sempre as zonas cinzentas, definir quem é o pai o filho ou o que é rock ou pop ou música ligeira, é complicado. O Rui Veloso não é de todo o Pai, isso é um dado adquirido e facilmente comprovável. Agora quando leio opiniões que põe em causa se bandas como os Ekos ou os Sheiks, seriam de Rock Português, só porque tocavam covers, então os Beatles não se fartaram de tocar covers no início ? Não deixaram por isso de serem quam foram. Nos anos 60 a diferença entre Pop Rock e mesmo o Nacional Canconetismo, em Portugal, era muito ténue, havia mesmo quem andasse de um lado para o outro, o Conjunto Académico João Paulo é um exemplo disso, ou a Madalena Iglésias, por exemplo. Mesmo os membros dos Sheiks, individualmente, todos vieram a participar no festival da canção, incluindo o Fernando Tordo, que teve uma passagem episódica pelos mesmos. enfim...já vai longo o post, depois escrevo mais.
Cumprimentos

Barata disse...

Boa noite.Acho que nenhum destes fulanos que apontam pode ser o pai do rock porque nenhum deles tocava rock, nunca passaram da musica ligeira que toda a gente ouvia nas rádios. O chico fininho é um tema de rock? Mas que anedota, só pode ser... Mas afinal o que se entende por rock aqui?Acham que o frei hermano e a tonicha também tocavam?